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HARMONIZAÇÃO INUSITADA

Legenda: Reprodução

Publicado em 02/09/2015

Realizar uma harmonização de vinhos com culinária Europeia é quase natural. São centenas, até milhares de anos de evolução lado a lado que a coisa parece automática, é só pensar no fator regional e já temos exemplos fantásticos. A culinária Oriental não nasceu lado a lado com o vinho e as combinações podem ser mais problemáticas e requerem uma imaginação mais fértil e um pouco mais de ousadia. Os orientais podem chamar seus pratos de clássicos e tradicionais, mas de uma maneira bem diferente dos Europeus, por assim dizer. Os ingredientes são outros e o senso de harmonia entre eles também são praticamente únicos à região.
 

Os asiáticos estão sempre contrastando sabores e texturas: o calor picante, o azedo, frituras e o agridoce estão muito presentes. Por esse motivo devemos prestar atenção nos vinhos que tragam equilíbrio e um toque de contraponto às sensações que não precisam ser potencializadas.

Esse é um dos motivos que temos para usar a imaginação e fugir dos Cabernets e Chardonnays que dominam o mercado e buscar o que pode ser inusitado pra muitos. As melhores opções para combinar com a culinária Asiática são os vinhos mais leves em álcool, de taninos menos intensos, uma acidez que dá água na boca e muitas vezes um açucar residual que os americanos chamam de "off-dry" que combinados com a acidez viva deixa a doçura quase imperceptível.

 

Sem dúvida nenhuma de todas as opões que já provei um Riesling Kabinett da Alemanha foi o mais versátil e interessante. A doçura fica quase imperptível com a acidez vibrante desse estilo e além de tudo é um vinho leve, mas suculento e muito fragrante, igual aos pratos feitos com uma enorme mistura de sabores e texturas como pimenta, vegetais, especiarias e acidez vinda de limão ou vinagre de arroz. Outros brancos que trazem esse estilo fragrante, suculento e aromático, mas não com tanta acidez são das uvas Viognier e Gewurztraminer. E também podemos mencionar o Champagne que com as suas borbulhas, acidez e cremosidade podem ser um par mais fácil de encontrar.
 

Os tintos do sul da França e alguns exemplares da Itália vão muito bem com pratos que levam a carne de gado ou porco no estilo agridoce com boa dose de notas picantes. O corte tradicional do Mediterrâneo Francês levando Grenache, Syrah e Mourvedre combina o frescor das frutas vermelhas, aromas terrosos e taninos macios para a harmonização e a acidez viva de uvas como Sangiovese e Dolcetto na Itália trazem o necessário para a mesa, além de ambos os vinhos aumentarem a sensação de Umami muito marcante na cozinha oriental.

 

Uma tendência para a cozinha mais picante, seja a base de pimentas, curry ou wasabi são os vinhos que trazem muita acidez e muito açucar residual, entre eles estão os vinhos atacados pela podridão nobre (Botrytis Cinerea) como Tokaji e Sauternes. Sempre que conversei com produtores desse estilo de vinho observava o interesse em tirar o conceito de “vinho de sobremesa” e trazer para a mesa principal, principalmente nos mercados asiáticos. Esse contraste do picante e doce era o principal argumento e tive poucas, mas boas experiências nesse sentido.

Para ficarmos com algumas dicas deixo aqui um Dolcetto Prunotto do Piemonte, o Côtes du Rhone Villages Louis Bernard e um Riesling Becker Landgraf da Alemanha, além é claro de um bom Champagne Lanson. 


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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