00:00
21° | Nublado

Enólogos voadores

Michel Rolland

Publicado em 16/09/2013

Da mesma forma como a variedade de vinhos que temos à nossa disposição é virtualmente infinita e por muitas vezes paramos numa zona de conforto, degustando vinhos do mesmo estilo, da mesma uva e mesmo país, os enólogos responsáveis por nos proporcionar essas maravilhas podem ficar “presos” a um estilo, uma região.

E quando falamos em características climáticas, de solo e de variedades de uvas, as possibilidades são igualmente infinitas. Ainda existem muitas fronteiras que serão ultrapassadas, novas terras que serão utilizadas para produzir diferentes vinhos e, até mesmo com as pequenas mudanças climáticas, descobriremos novos locais de produção onde antes não seria imaginável plantarmos uvas para vinificarmos vinhos de qualidade.

É nesse ponto que entram os “enólogos voadores”, aqueles inquietos que não se contentam com uma única região, por mais incrível que ela seja, mas que buscam novos desafios, novos terroirs e novos estilos. Eles viajam o mundo atrás de parcerias, de terras ainda virgens para a produção de vinhos e buscam utilizar esses fatores para criar algo novo e geralmente de excelente qualidade, afinal, a intenção é se superar e criar algo único, que não era feito antes.

Os países do chamado Novo Mundo têm visto uma grande imigração desses enólogos, principalmente provenientes da Europa, mas também americanos e australianos. Nomes consagrados como John Duval, Roberto Cipresso, Paul Hobbs e Michel Rolland estão viajando o mundo e plantando suas sementes em cada canto, em diferentes pedacinhos de terra, trazendo não somente know-how, mas sua paixão e estilo pros vinhos que outrora eram apenas frutos de uma região distante das suas origens.

Os melhores enólogos podem se sentir um pouco “presos” quando limitados somente ao seu quintal, por isso, nomes como Michel Chapoutier e Ernst Loosen soltaram suas raízes e criaram projetos paralelos aos seus vinhos já consagrados. Esses projetos tendem a se tornar muito representativos e se aliam ao fato de que essas pessoas venham com outras culturas, outros “vícios” e pontos de vista, não tão presos ao que já se faz por ali.

Por mais que o tradicional seja excelente e que eles sejam mestres em produzir esses vinhos nos locais em que nasceram, é sempre bom celebrar os “andarilhos”, aqueles que buscam desafios diferentes e que perseguem a excelência em locais que podem ser considerados forasteiros.

Por conta desse movimento, temos ao nosso alcance o desenvolvimento de vinhos em regiões como Oregon e a Domaine Drouhin, Maipo com Ventisquero Enclave e Almaviva, Mendoza com Achaval Ferrer e até mesmo no Brasil, com a consultoria prestada por Michel Rolland à Miolo na última década.

Assim como eu admiro enófilos que buscam uvas, regiões e sabores diferentes e inusitados em meio a tanta coisa igual, também admiro esses enólogos inquietos.


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


Ver outros artigos escritos?