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DANDO NOME AOS PRATOS

Foto: Reprodução

Publicado em 01/03/2016

Quero lhes apresentar o Luís Felipe! É de família tradicional, mas não é um rapaz, muito menos um senhor, talvez uma múmia, pois se humano fosse, teria mais de 300 anos. Luís Felipe é um bolo cuja receita veio para o Brasil com a Coroa Portuguesa, e assim foi batizado como sátira aos reis franceses.

O criador, ou a criatura que inspirou a criação, geralmente são os homenageados em pratos e sobremesas que permeiam a cultura gastronômica mundo afora. É o que aconteceu a Gomes de Sá, dono de restaurante fino em Lisboa nos idos 1900, criador do bacalhau ao forno com alho, cebola, azeitonas pretas, salsa, ovos cozidos e muito, mas muito azeite: surgiu assim o Bacalhau a Gomes de Sá.

Já Zé do Pipo tinha uma tasca nos arredores da cidade do Porto em meados do século XVII, onde o bacalhau era servido aos pedaços, enfarinhados e dourados no azeite, com purê de batata e coberto com maionese: bacalhau à Zé do Pipo. No Brasil do século XIX, D. Rita de Cássia Souza Leão Bezerra Cavalcanti, nobre, em um ato de rebeldia decidiu não cozinhar com nada que viesse de Portugal e da Europa, só usaria produtos locais, uma visionária.

Até a bagaceira deu lugar a nossa cachaça, o que a tornou cada vez mais popular a partir deste acontecimento. O bolo Souza Leão, bem brasileiro, feito com massa de mandioca, surgiu assim. Na cozinha carioca, as homenagens não são criadores, e sim, criaturas que até davam “pitacos” nas receitas de bares e restaurantes. O filé coberto com alho dourado no azeite e servido com arroz e farofa do restaurante Cosmopolita, foi criado ao gosto do embaixador Oswaldo Aranha, que o batizou.

Já a sopa Leão Veloso foi invenção de outro embaixador brasileiro na França que, dizem, ensinou a seu modo a sopa francesa bouillabaisse, e dessa adaptação veio a versão carioca do clássico francês. Mas certamente o mais festejado com receitas-homenagem é o compositor italiano Gioachino Rossini, autor de “Barbeiro de Sevilha”, entre tantas óperas.

O filet à Rossini, suponho, é o mais conhecido: um tournedo selado sobre um pão tostado na manteiga e um escalope de foie gras, tudo regado com um molho escuro e trufas negras fatiadas. Diz-se que Rossini, após a estreia do “Barbeiro”, escreveu à soprano da ópera, Isabella Colbran, não para comentar seu ótimo desempenho, mas sim para lhe dar uma receita com trufas, e encerrou a carta com: “... a trufa dá uma espécie de auréola, que leva o gastrônomo ao êxtase, é o “Mozart dos cogumelos!”.

Tão encantada ficou a cantora, que se casou com ele, mas foi logo trocada por uma talentosa cozinheira, Olympe Pelissier, que foi a Sra. Rossini até sua morte. Grandes chefs, inclusive Escoffier, dedicaram incontáveis pratos em sua homenagem: legumes, omelete, frango, massas, risotos... tudo “à Rossini”.

Tenho para mim que o grande “Oscar” de quem trabalha, curte e ama a gastronomia, é ter seu nome imortalizado em uma receita! Quem sabe um dia serei lembrado assim?