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As descobertas do Uruguai
Nem só de Tannat vive este pequeno país que produz grandes rótulos

Crédito: Reprodução/site Marcelo Copello

Publicado em 01/08/2019

Sempre quando falamos em Uruguai, pensamos em Tannat, e, quando falamos em Tannat, pensamos em Uruguai. A culpa não é nossa, fomos influenciados por essas informações desde sempre, em todos os livros de estudos, com a maioria dos vinhos trazidos para o Brasil e nas comunicações das vinícolas de lá. Faz sentido! É mais fácil começar a aparecer com uma casta pouco utilizada mundialmente, como o Chile fez com a Carménère, por exemplo.

E a uva Tannat sempre se deu muito bem por lá, apesar de suas origens no Sudoeste francês, onde geralmente faz parte de blends, por seu caráter mais rústico e que gera vinhos mais duros e tânicos. Ela foi trazida para o Uruguai por imigrantes Bascos por volta de 1870, e hoje tem mais Tannat plantada ali do que na sua origem em Madiran e Irouléguy. Mesmo no Uruguai, sempre ligamos essa uva a vinhos intensos, encorpados e mais duros, que precisam de tempo de barrica e garrafa para “arredondar”. Exemplos como Amat e Pisano são clássicos que precisam de mais de 10 anos de garrafa para serem degustados. Mas, hoje em dia, com novas regiões sendo desenvolvidas e um novo perfil de consumo, algumas vinícolas estão com uma “mão mais leve” e têm oferecido vinhos mais macios e trabalhado com outros varietais.

Esse é um tema complexo, alguns acham que a Tannat é assim mesmo, meio indomável. Daniel Pisano afirma que a uva tem esse caráter e que “se você não dá conta desse cavalo, compre um pônei”. Dizem que esse perfil é um “Tannat para quem não gosta de Tannat”. Mas, é justamente nesse ponto que eu acho válido a prova, pode ser uma ótima porta de entrada e de conhecimento dessa uva, até chegar ao paladar do estilo raiz que o Uruguai se tornou referência. Outro exemplo de uva que já podemos considerar que se adaptou por lá é a Albariño, essa variedade branca muito presente nas regiões de Rias Baixas e Minho (Alvarinho), tem sido plantada há quase 20 anos no Uruguai, e os resultados são animadores, tanto nas versões frescas e leves, até mesmo nas que têm contato com a madeira. José Ignácio, Bouza e Garzón são ótimas opções, esse último, inclusive, levou o prêmio de melhor branco do Guia Descorchados com seu Single Vineyard.

Tintas como Marselan e Cabernet Franc, além de Merlot e Petit Verdot, são outras que temos visto com mais frequência. Mas, é mesmo nos novos estilos de Tannat, que podemos observar a variedade de climas e solos que podemos encontrar no país, desde a clássica região de Canelones, passando pelo Cerro do Chapéu, na fronteira com o Brasil, até as novas regiões costeiras próximas a Punta del Este, temos opções para todos os gostos.

Na recente visita que fiz à Bodega Garzón, que, aliás, é fantástica, - recomendo a visita para quem está de passagem por Punta del Este -, pude provar diversas opções sem muita extração, sem madeira e com mais utilização de tanques de concreto e inox para preservar o caráter varietal, sem precisar esperar muito tempo em garrafa. Até mesmo os ícones Petit Clos e Balasto nos trazem uma concentração com equilíbrio e a complexidade que o terroir nos passa, utilizando concreto e barricas de grandes formatos de madeira sem tosta. São vinhos fantásticos que já podem ser apreciados agora e com potencial de guarda para melhorar com os anos. Vale a pena descobrir os novos vinhos uruguaios das regiões costeiras, pois, com certeza, irão agradar os mais exigentes paladares e são uma nova forma de introdução ao país.


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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