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Sentir dor é sempre um sinal de algo grave?

(Foto: Divulgação/ Better You)

Publicado em 25/06/2018

A dor é um processo complexo que vai muito além das conexões entre os nervos. O que ocorre na experiência da dor é uma interface entre processos fisiológicos, psicológicos e sociais. A estimulação neural ocorre quando estímulos de dor são enviados ao cérebro, processados e enviados de volta, como uma resposta. Durante esse percurso, no entanto, há fatores que modulam essa resposta. É por isso que, em algumas situações traumáticas, a sensação de dor só vem depois do evento.

Alguém que está realizando um salvamento, por exemplo, pode nem sentir que machucou a perna e só perceber mais tarde que teve um ferimento. Há tantas outras situações em que pessoas passam por episódios agudos e só sentem a dor um tempo depois. Esse mesmo fenômeno de modulação pode ocorrer na dor crônica. É a interferência de estados psicológicos e contextos sociais que, eventualmente, intensificam a sensação de dor, mesmo quando não há dano tecidual envolvido.

A abordagem biopsicossocial da dor procura compreender o ser humano em todas as suas dimensões, e não apenas sob o ponto de vista biológico ou estruturalista. É um avanço teórico, baseado em evidências científicas, do modelo de que a dor é, diretamente, o resultado de dano tecidual. Imagens de ressonância magnética e PET scans mostram que muitas áreas do cérebro ficam ativas durante a percepção da dor, sugerindo que o processamento das emoções, comportamento e dor são intimamente interligados.

A dor crônica, que é a que dura três meses ou mais, gera muito estresse ao organismo e, consequentemente, cria um círculo vicioso, deixando o indivíduo em permanente estado de vigilância. A continuidade desse quadro traz consequências muitas vezes severas ou mesmo incapacitantes, ocasionando perda da qualidade produtiva ou nas relações pessoais.

A boa notícia é que há estratégias de manejo da dor que podem ser aprendidas e devem restabelecer a qualidade de vida. Ao invés de colocar o foco nas “causas físicas”, os profissionais de saúde devem informar-se acerca das evidências científicas que corroboram a abordagem multifatorial ou, em outras palavras, levam em conta as dimensões biopsicossociais. O modelo dualista de divisão mente-corpo, à luz dos resultados nas neurociências, não mais se sustenta.

Uma abordagem multidisciplinar da dor, que leve em conta a complexidade humana, é o caminho mais razoável. Isoladamente, nenhuma medida será eficaz num quadro de dor crônica. O combate ao sedentarismo, à inércia, ao medo do movimento, no entanto, tem se mostrado eficiente quando compõe uma estratégia planejada de acordo com a individualidade. A falta de exercício leva à perda de massa muscular, aumenta o risco de vários cânceres, predispõe a diabetes, hipertensão, distúrbios do sono e muitas outras patologias. O sedentarismo, portanto, é um caminho perigoso.

Fazer exercícios promove a saúde, reduz o estresse, produz cascatas hormonais que ajudam a regular a homeostase, melhora a sensação de auto-eficácia, produz efeitos hipotensivos e traz uma inigualável sensação de relaxamento. Se você tem dor crônica, não deixe que essa sensação tome conta da sua vida: procure ajuda!