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Será uma ameaça?
Em meio a manifestações contrárias, emissário submarino no Sul da Ilha é defendido pelos órgãos públicos como a alternativa mais viável para o sistema de esgoto de Florianópolis

Casan defende que equipamento é ideal para a cidade, pois protege as áreas litorâneas com ambientes frágeis como manguezais e praias (Crédito: Fernanda Perboni)

Publicado em 08/08/2019

Em cidades urbanas que crescem progressivamente, o escoamento adequado do esgoto é sempre uma problemática em discussão.  É o caso de Florianópolis. O aumento da ocupação da capital catarinense - que resulta em uma grande produção de esgoto -, está entre os parâmetros que motivam a opção pela construção de um emissário submarino no Sul da Ilha. Porém, a comunidade local apresenta uma posição contrária, pois acredita que o emissário irá afetar o ecossistema da região.

A obra do Sistema de Disposição Oceânica do Sul da Ilha – o Emissário Sul da Ilha – faz parte do planejamento da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento – Casan, para avançar na cobertura de coleta e tratamento de esgoto da capital. O projeto apresentado pela Companhia ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) para licenciamento ambiental prevê a implantação de tubulação subterrânea, com comprimento de aproximadamente 5 quilômetros, em um eixo perpendicular à linha da costa, localizado ao norte da Ilha de Campeche. “Temos um estudo consistente, com sete mil dados coletados nos últimos anos. Medimos correntes, temperaturas, salinidade da água e uma série de condições foram consideradas”, explica Alexandre Trevisa, engenheiro químico da Casan.

Porém, de acordo com Alencar Vigano, presidente da Associação dos Moradores do Campeche (Amocam), o emissário já foi um assunto discutido na comunidade há alguns anos e não teve sucesso, inclusive foi tema de diversas manifestações contrárias. “Achamos uma ideia ultrapassada. É uma alternativa bastante complicada trazer o esgoto de mais da metade da Ilha pra ser despejado num local da Ilha do Campeche, que pode ter consequências desastrosas, não somente no mar, mas na terra também”, disse. Ele complementa ainda que não foram discutidas com a comunidade outras ideias de implantação além do emissário. “A Prefeitura e a Casan estão encarando como a única alternativa. E na verdade não é assim. Queremos que se discutam todas as alternativas de uma maneira igualitária”.

A Prefeitura de Florianópolis salienta que tem participado das reuniões com a comunidade e os órgãos responsáveis e que é a favor da alternativa do emissário. “Não discriminamos nenhuma alternativa de solução. A solução é o esgoto tratado corretamente e que seus efluentes sejam destinados de maneira correta. Existe uma limitação bastante grande por parte dos órgãos ambientais para que esses efluentes sejam colocados nos cursos d`água, nos rios. Mas, pelo que temos visto no projeto do emissário, não há nada que possa comprometer o meio ambiente”, defende Fábio Ritzman, superintendente de Saneamento e Habitação da Secretaria Municipal de Infraestrutura.

Proteção de área litorânea

Segundo o engenheiro químico da Casan, Alexandre Trevisan, foram realizados estudos para a definição do melhor ponto de lançamento do efluente (esgoto tratado), e modelagem matemática de dispersão (que mostra como será a assimilação pelo mar), além de levantamento e avaliação de metodologias construtivas. “É natural que as pessoas fiquem apreensivas quando ouvem falar em emissário, mas também é importante ter consciência de que a alta densidade e a crescente ocupação da ilha resultam numa grande produção de esgotos que precisa ter uma destinação adequada”, complementa.

Trevisan alerta que o emissário é uma alternativa de grande importância para solucionar a disposição final de efluentes tratados em uma cidade como Florianópolis − uma ilha e que possui rios, em sua maioria, de pequeno porte e vazão limitada. “Os emissários são equipamentos utilizados em diversas cidades do mundo e quando adequadamente planejados e construídos protegem as áreas litorâneas com ambientes frágeis como manguezais e praias, como é o caso de Florianópolis”, complementa.

Emissários são realidade

A tecnologia de emissários submarinos é utilizada em diversos países no mundo como, por exemplo, a Inglaterra, que possui em sua costa mais de dois mil emissários. O Brasil possui apenas vinte deles localizados principalmente em regiões costeiras. O primeiro emissário submarino construído no País funciona até hoje em um cartão postal do Rio de Janeiro, a praia de Ipanema. Inaugurado em 1975, o duto possui 3,6 km de extensão da costa até seu ponto final em alto mar, onde estão localizados 180 difusores, furos que possibilitam o despejo descentralizado. A cidade de Santos, situada no litoral de São Paulo, teve seu emissário inaugurado em 1978 por ser a melhor opção para o escoamento de esgoto para a região, que é cercada por mangue.

Já o emissário submarino da Barra da Tijuca, também situado no Rio de Janeiro, foi inaugurado em 2006. Diferente de Ipanema, o esgoto despejado na Barra passa por uma estação de tratamento primária em que todo o lixo é recolhido e a carga orgânica reduzida. O emissário possui 5 km de extensão e drena em média 1.600 litros por segundo.

A escolha pelo emissário submarino, segundo a Casan:

- Necessidade de ampliação da cobertura de coleta e tratamento de esgotos em Florianópolis, de acordo com o Plano Municipal de Saneamento;

- Alta densidade e a crescente ocupação da Ilha, que resultam em uma grande produção de esgotos;

- Presença na Ilha de rios que em sua maioria são de pequeno porte e apresentam vazão limitada – então dificultam a diluição de efluentes das estações de tratamento de esgoto;

 - Possibilidade de que efluentes tratados sejam lançados no mar, um corpo hídrico com grande capacidade de diluição e de autodepuração.

Conheça mais!

- A Casan possui um canal para quem quiser esclarecer dúvidas ou tiver interesse em agendar uma reunião de apresentação do emissário. É só entrar em contato através do e-mail emissario@casan.com.br.

- Acesse AQUI, procure por “Sistema de Disposição Oceânica” e confira o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do emissário do Campeche. 

Matéria escrita por Gabriela Morateli