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O SAL DA TERRA
Documentário que conta a história do fotógrafo Sebastião Salgado promete sucesso de público

A alma de cada povo e a beleza dos locais por onde passou estão registrados nos trabalhos do fotógrafo Sebastião Salgado (Foto: Divulgação)

Publicado em 24/03/2015

Era 1986 quando ouvi falar pela primeira vez em Sebastião Salgado. O fotógrafo brasileiro, que já acumulava experiências raras mundo afora, como ter documentado o atentado a tiros contra o presidente dos EUA, Ronald Reagan (1981), estava lançando seu primeiro livro, o “Outras Américas”. Esta obra me deu naquela época uma narrativa visual nova, que eu absolutamente não conhecia. A amarga vida dos remanescentes de tribos indígenas na América Latina, a temática do livro, estava ali retratada em imagens de uma profundidade intensa, belas demais do ponto de vista estético, e tristes ao extremo, pela carga histórica que sustentavam. E é essa intensidade, que reside na beleza e no realismo sofrido dos povos, que potencializa o trabalho único e sensível do brasileiro Sebastião Salgado.

Essa antiga percepção foi revisitada agora, e de forma mais abrangente, no filme documentário “O Sal da Terra”, que estreia nacionalmente no próximo dia 26 de março e será exibido em Florianópolis no Paradigma Cine Arte. O trabalho, fruto do casamento do consagrado diretor alemão Win Wemders (de ”Paris,Texas”/ 1984,  “Buena Vista Social Club”/1999 e tantos outros) e de Julio Salgado, filho e entusiasta do projeto, é um sucesso de crítica e ao que indica também será de público. Público, que fique claro, que curte o formato documentário e que, acima de tudo, tenha afinidade com o trabalho de Sebastião Salgado.

O documentário é fácil de ver e de absorver o jeito de ser de Salgado. Com várias tomadas em preto e branco, que se entremeiam a fotos do artista e dele próprio trabalhando, a narrativa é feita ora por Wenders, ora por Salgado e, em boa parte, pelos próprios depoimentos contidos no documentário. A trajetória, desde a infância até a compra da primeira câmera e, consequentemente das primeiras experiências como fotógrafo, apesar de organizada de forma cronológica não é nem de longe maçante, como tinha tudo pra ser.

Aos poucos, vamos nos apaixonando pela história, pela importância da mulher de Salgado no rumo das coisas, pelas viagens e desafios que ele atravessa. É impossível não se emocionar com as belas fotos de Mali, de Ruanda, de Serra Pelada e de tantos outros lugares que Salgado passou e registrou o sentimento de um povo como quase ninguém fez ou faz. Na luz do olhar de uma criança que foca o nada, na lágrima resplandecente de uma índia idosa que denuncia o passado duro, nas rugas cheias de esperança que cortam a pele castigada do garimpeiro. Residem ali a alma do trabalho de Sebastião Salgado e ela está desnuda nesse documentário.

A verdade é que alguns críticos, uma minoria repetitiva, vão insistir na tese da “estetização da miséria”, atribuída a ele tantas vezes. Outros, por sua vez, já estão defendendo a tese da luta de egos, pelo fato de ter se juntado num mesmo filme um ícone da direção cinematográfica e outro da fotografia, cada qual com seus propósitos. Eu, uma pessoa comum e filha de Deus, vejo como uma rara oportunidade de conhecer o trabalho deste brasileiro cheio de talento, de histórias e que criou uma linguagem visual só dele. É uma espécie de homenagem pelo trabalho ao longo de 40 anos, não de fazer fotos simplesmente, mas de conseguir abrir nossos olhos para a questão social e ambiental em vários cantos do planeta.  É merecido ele poder deixar seu legado nesse documentário que, por pouco mesmo, não levou a estatueta do Oscar 2015 como o Melhor Documentário. Vale conferir.

 

Título original: Le Sel de La Terre

Direção: Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado

Roteiro: Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado e David Rosier

Produção: David Rosier

Fotografia: Hugo Barbier e Juliano Ribeiro Salgado

Edição: Maxine Goedicke, Rob Myers

País: Brasil, França, Itália

Ano: 2014

Tempo: 110 minutos

Exibição em Florianópolis: Paradigma Cine Arte (SC-401 Corporate Park), de 26/03 a 08/04/2015