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LADO SELVAGEM
Filme argentino “Relatos Selvagens”, já assistido por mais de 4 milhões de pessoas, chega a Florianópolis neste mês

Leonardo Sbaraglia esbanja beleza e fúria num dos melhores episódios do longa

Publicado em 22/07/2015

São seis histórias. Imperdíveis, todas sensacionais. As que destoam, são espetaculares. Nenhuma delas é muito real, mas parece que o diretor e roteirista Damián Szifron não queria mesmo que fossem plausíveis. Elas exploram o limite do absurdo, e é exatamente o contraste entre a comédia e a tragédia que faz o filme funcionar tão bem. Outro ponto de nocaute é que é praticamente impossível você não se identificar com pelo menos um dos personagens e, de quebra, entrar na nóia do “E se eu...” completando a frase com algo selvagem, digamos, terrivelmente selvagem.

Os protagonistas fora de controle que decidem fazer justiça com as próprias mãos nos seis pequenos episódios independentes do filme revelam um humor sofisticado e inteligente. Mostram também que qualquer um de nós pode, a qualquer momento e por qualquer motivo, surtar e assim mudar violentamente o rumo das coisas. É essa linha tênue que separa a civilização da barbárie, o conformismo da selvageria, a base do filme de Szifron.

O elenco reúne atores de talento e totalmente identificados com a proposta do filme. O premiado Ricardo Darín, praticamente uma instituição do cinema argentino, está esplêndido na interpretação de um engenheiro que trabalha numa empresa de implosões de edifícios, pai de família ausente, e que sofre as agruras da burocracia governamental argentina. Já Érica Riva, que faz a noiva que descobre na festa do seu casamento a amante do marido entre os convidados e resolve se vingar ali mesmo, tem um desempenho contagiante. Ela transpõe a sua loucura e contamina os espectadores com um desequilibrado e não menos pertinente questionamento sobre família, fidelidade, instituições e tudo o mais. Mas, perfeita e hilária é mesmo a atriz Rita Cortese, que interpreta a cozinheira de uma lanchonete decadente de beira de estrada. Com um humor negro incrível, ela mostra claramente que não tem muita paciência para certos clientes e algumas injustiças.

O tom tragicômico do filme explica em parte seu grande sucesso. Isso porque, apesar de divertido, muito divertido aliás, ele não deixa de discutir questões contemporâneas e urbanas como a intolerância e a injustiça social. Ou seja, é uma comédia com essência. Coisa que no nosso cinema nacional é cada vez mais raro encontrar.

Erica Rivas, simplesmente impagável no papel da noiva que descobre em plena festa de casamento a traição do marido (Diego Gentile)

O diretor argentino Damián Szifron, agora internacional e merecidamente consagrado 

O diretor

Damián Szifron até então era um diretor que transitava muito bem na televisão argentina, mas pouco emplacava nas telonas. Agora, depois de ver sua obra indicada ao Oscar, conquistar o exigente público de Cannes e cair nas graças dos irmãos Almodóvar que produziram este longa, Szifron consagra-se internacionalmente como diretor e roteirista. Sua câmera, passeadeira e maliciosa, evidencia o que é necessário e apenas sugere o que não pode ser revelado. Seu roteiro é impecável, bem escrito, com as pausas corretas. Melhor não poderia ser. Texto, interpretação, trilha sonora, cinematografia, tudo perfeito em Relatos Selvagens. Viva Damián Szifron! Vida longa a Ricardo Darín e ao cinema argentino!

O que assistir: Relatos Selvagens (2014)

Quando: de 16 a 29 de julho de 2015

Onde: no Paradigma Cine Arte (SC-401, Corporate Park)

Roteiro e Direção: Damián Szifron

Elenco: Darío Grandinetti, Diego Gentile, Diego Velázquez, Erica Rivas, Julieta Zylberberg, Leonardo Sbaraglia, Liliana Ackerman, María Marull, María Onetto, Mónica Villa, Nancy Dupláa, Oscar Martínez, Osmar Núñez, Ricardo Darín, Ricardo Truppel, Rita Cortese

Produção: Agustín Almodóvar, Esther García, Hugo Sigman, Matías Mosteirín, Pedro Almodóvar

Fotografia: Javier Julia