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Imagens e palavras que emocionam
Projeto promove conscientização sobre o câncer de mama e a importância da humanização da medicina através de fotografias e textos

A atriz Dalva Sandes conseguiu expor – de corpo e alma – todo o processo que experimentou, retratando também a experiência de muitas mulheres portadoras da doença (Foto: Hugo Lenzi)

Publicado em 15/10/2019

Estimular uma nova conduta em relação ao enfrentamento do câncer de mama e oferecer informações de qualidade sobre a doença. Estas são as metas do Projeto sociocultural “De Peito Aberto”, que há 14 anos é apresentado em todo o Brasil e no exterior em formato de exposição fotográfica, palestras interativas e livro. A concepção do projeto surgiu após a jornalista e escritora Vera Golik e o fotógrafo e sociólogo Hugo Lenzi vivenciarem casos de câncer em suas próprias famílias. 

A exposição, que em Florianópolis foi apresentada no Beiramar Shopping até domingo, 13, destacou mulheres – e um homem - que vivem ou enfrentaram o Câncer de Mama, colocando em foco e chamando a atenção também para a importância da relação entre médico e paciente e a importância de uma perspectiva humanizada da medicina, onde se trate a pessoa e não apenas a doença.  “É um projeto único no mundo pela abordagem artística e humanística a partir da vivência das pacientes, familiares e apoiadores, e dos profissionais de saúde, desde a constatação da existência da doença, passando pelo processo de enfrentamento, pela importância do apoio, até a superação”, afirma Vera.

Com mais de 70 exposições e 350 palestras pelo Brasil e em outros países, ​“De Peito Aberto” já recebeu mais de oito milhões de visitantes e foi a única mostra convidada e exposta em toda a história na sede das Nações Unidas, em Nova York, durante o período da Assembleia Geral, em 2011.

Confira alguns relatos emocionantes de personagens da exposição:

Recuperando a autoestima 

“Ao confirmar o diagnóstico, passei noites sem dormir e chorando muito. Depois de ouvir várias opiniões dos médicos, continuava achando que não podia ser verdade. Minha primeira reação foi tentar sumir. Fui para os Estados Unidos, cheguei a ir para o Japão. Não adiantou. Demorei a aceitar que eu tinha mesmo a doença e que precisava tomar coragem para encará-la. Quando você descobre que tem câncer, é como se um buraco se abrisse. Eu caí, e foi muito difícil chegar a sentir que precisava me salvar.”

Dalva, que interpretou para a mostra De Peito Aberto os principais sentimentos por que passam as mulheres, viveu na pele essas sensações e se revelou uma vencedora. Na época, ela não conseguia mais trabalhar, se sentia sem forças, sem perspectivas e com a autoconfiança muito abalada. Os amigos criaram uma comunidade de fãs para ela em uma rede social – Eterna Chacrete Estrela D’Alva – se referindo à época em que trabalhou na TV com o saudoso Chacrinha. Mesmo admirada, naquele momento difícil, ela não estava ciente desse valor. Precisou buscar determinação e força em sua fé para depois, com muita dedicação, ultrapassar seus próprios limites e se tratar. “Senti tudo: dor, medo, solidão, depressão. Um dos grandes temores era o de perder a mama. Por ser atriz, vivo da minha imagem, da integridade do meu corpo, e a notícia da mutilação era desesperadora. O pior foi um médico que queria que eu desistisse de colocar a prótese e me assustou dizendo friamente que o caso era grave. Repetia que a cicatriz ia ficar imensa e profunda em todo meu colo e que o procedimento era assim mesmo. Senti que faltava o lado humano, a sensibilidade de perceber que, para mim, além da luta para salvar a minha vida, também era vital procurar maneiras de preservar a estética. Meu lado psicológico ficou muito abalado”, conta.

Porém, Dalva teve a boa sorte de encontrar pessoas maravilhosas que a ouviram e a acalmaram. “Os médicos e a instrumentadora do IBCC - Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, além de me darem colo, disseram que eu não deveria me preocupar. Sim, eu faria a cirurgia: tiraria o tumor e faria o quadrante da mama, podendo fazer a reconstrução imediata. Eu não tive dúvidas, confiei neles e nos avanços da medicina. De qualquer forma, quando acordei da cirurgia, a primeira coisa que fiz foi olhar para os meus seios e ver como tinha ficado a reconstituição. Fiquei aliviada, pois estava tudo certo. Fui vitoriosa e estou feliz”, lembra.

A coragem de se expor diante da câmera fotográfica e de compartilhar sua história com outras pessoas ajudou Dalva a recuperar sua autoestima. Casada, com uma filha e uma neta, ela voltou a atuar, comemorando suas vitórias sua alegria de viver.

Missão de vida

Em 2001, a socióloga Leoni Margarida Simm, então com 63 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Em vez de cair na armadilha comum na época de “que alguma coisa tinha feito para merecer aquilo”, ela transformou e continua transformando toda sua experiência em uma missão de vida. Valoriza demais a própria vida e ajuda milhares de pessoas atuando pela causa do combate ao câncer. “Já tive medo, não conseguia dormir. Hoje, o que me move é ser ativista pelos direitos das pacientes e admirar quanta beleza tem no mundo!”, afirma ela, que é presidente voluntária da AMUCC – Amor e União Contra o Câncer.

Desafio em dose dupla 

Amadeu nasceu em Braga, Portugal. Aos 60 anos, ou seja, 24 anos antes de fazer a foto para a exposição De Peito Aberto, descobriu o câncer de mama. “Era 6 de maio de 1987. Estava no banho quando percebi um caroço no mamilo. Achei aquilo estranho e fui procurar um médico, que me disse: ‘Não é nada, mas é bom fazer uma biópsia’. Nem sabia o que aquilo significava. Em todo caso, fui procurar outro médico e ouvi a mesmíssima frase: ‘Não é nada, mas é bom fazer uma biópsia. Percebi que a coisa era séria e devia mesmo ter alguma coisa. Fui fazer a tal biópsia e quando o resultado chegou o médico me chamou em seu consultório. Ele abriu o envelope e, muito sério, olhou para mim e disse: “Sr. Amadeu, infelizmente o resultado foi positivo. O senhor tem câncer de mama”,  lembra.

Na época, chegou a pensar o pior, já que, além da doença, sua esposa havia falecido há pouco tempo, vítima de um acidente de trânsito, e ele ficara com três filhos pequenos, de 9, 10 e 11 anos, para cuidar. Porém, com o passar do tempo, Amadeu lembra do episódio fazendo graça. “Me recordo de um dia na recepção do ginecologista em que estava esperando a consulta junto com várias pacientes e uma delas quis saber: ‘O senhor veio acompanhar sua esposa?’ ‘Sou viúvo.’, respondi meio sem jeito. Mas ela insistiu: ‘Ah, então está aqui junto com sua filha, não?’ Eu fiz que não com a cabeça. ‘Sua nora, então?’ Para deixá-la bem sem jeito, eu terminei o assunto: ‘É para mim mesmo’. E todas ficaram com aquela cara de interrogação, impagável”, conta.

Acesse AQUI para saber mais sobre o Projeto “De Peito Aberto”.

 

Beiramar Shopping recebe a exposição ‘Meu Corpo, Minha Fotografia’

Até o dia 25 deste mês, ‘Meu Corpo, Minha Fotografia’, com fotografias de Darline Santos estará exposição no Beiramar Shopping. “O resgate da autoestima é o foco principal desta campanha, que por meio de fotos, contam as histórias dessas mulheres inspiradoras”, destaca Darline.

Nas fotos, histórias que tem em comum a superação e a luta pela vida, que uniram Jesuane Maria Bazéggio, Taciana Damiani, Cacau Freitas e Emanuelle Camilo Vieira. “Compartilhar empoderamento, reafirmação da autoestima, espalhar a importância do autocuidado como ferramenta de prevenção, promoção da saúde e amor próprio feminino são alguns dos nossos propósitos. Cada mulher tem um corpo, cada corpo, uma história, e cada história precisa ser contada por quem vive todos os dias conquistando novos desafios”, lembra a fotógrafa. A mostra tem visitação gratuita e estará aberta das 10h às 22h, no piso L1.

Da redação