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Cuidado com o seu smartphone!
Uso excessivo do celular pode causar vício e problemas psicológicos em crianças e adultos

Impor limites ao uso do smartphone é essencial para a saúde mental (Foto: Reprodução)

Publicado em 22/08/2019

Quem nunca pegou o celular apenas para checar mensagens e passou dezenas de minutos – ou até mesmo algumas horas – vidrado na telinha? Esse comportamento cada vez mais comum pode se tornar um vício que já atinge 12% dos americanos, segundo dados do Center for Internet and Technology Addiction. E no Brasil isto não é diferente. Uma pesquisa recente encomendada pela Motorola à Ipsos ouviu 20 mil brasileiros e revelou que 41,52% são teledependentes, ou seja, usam o celular o dia todo, desde a manhã até antes de dormir, e olham a tela por impulso. 

“O celular ativa continuamente o Sistema de Recompensa, estrutura do cérebro que recebe toda a atividade prazerosa. Esse estímulo constante é o que gera dependência, em um processo similar à atuação de drogas ilícitas”, diz o psicólogo Ivo Carraro. O uso abusivo dos smartphones pode gerar transtornos psíquicos, como ansiedade e, posteriormente, depressão. O transtorno já tem um nome: nomofobia, medo de ficar sem o celular. Longe do aparelho, o indivíduo fica ansioso, com a sensação de estar perdendo informações importantes, ou ainda excessivamente entediado.

Outro prejuízo é a dificuldade de sociabilização e isolamento. “Os humanos são seres de linguagem verbal e sociabilidade acentuadas. Quando se comunicam somente por mensagens, que são ‘mudas’, a palavra falada é eliminada, agravando quadros depressivos”, explica Carraro. A exposição excessiva ao celular também pode causar insônia. Isso acontece porque a luz azul do aparelho ‘diz’ ao cérebro que ele deve ficar alerta. Assim, a produção de melatonina, o hormônio do sono, é inibida.

Para quem está sofrendo com o problema ou deseja evitá-lo, o psicólogo Ivo Carraro recomenda mudanças de hábitos. Entre elas, está reduzir o tempo de uso do aparelho, desinstalar aplicativos desnecessários, evitar usá-lo antes de dormir, deixar o aparelho guardado longe dos olhos ou até mesmo desligá-lo completamente durante um período do dia. “O celular exige atenção e concentração. Quando usamos o aparelho enquanto fazemos outras tarefas, estamos nos distraindo de nossas atividades. Menos uso do celular, portanto, significa desempenho melhor no trabalho ou nos estudos, além de um relacionamento mais saudável com amigos e familiares”, defende. Para casos de dependência severa, acompanhada de ansiedade e depressão, o psicólogo alerta que o acompanhamento profissional se faz indispensável.

Meu filho não sai do celular, o que fazer? 

Em 2018, o canal da Galinha Pintadinha ultrapassou em visualizações até mesmo grandes nomes da música mundial como Rihanna e Justin Bieber, ficando no ranking entre os mais populares do YouTube, e isto não foi à toa. Uma pesquisa divulgada em setembro de 2018 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil mostrou que 85% das crianças e adolescentes com idades entre 9 e 17 anos são usuárias de internet, o equivalente a 24,7 milhões que estão nesta faixa etária em todo o País. Se em 2012, 21% das crianças acessaram a rede por meio do celular, em 2018 foram 93%. O aumento impressionante do acesso tem preocupado cada vez mais os pais e profissionais que lidam com os pequenos e coloca em questão o possível vício infantil em celulares. 

A neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner é uma das especialistas que têm estudado esta guinada no comportamento infanto-juvenil: “Precisamos considerar que a tecnologia já está incorporada à vida. O celular hoje é mais que uma ferramenta, tornou-se uma dimensão humana muito frequentada. O smartphone hoje é mais que televisão, é ‘biblioteca’, é jornal, cinema, é playlist, dicionário. Estamos reféns dele. No entanto, embora seja inevitável a presença e o uso do celular no cotidiano, é necessário explicar e fazer a criança entender que a tecnologia é um meio para um fim, e não o contrário”. 

Ela destaca que esta ferramenta tecnológica pode ser usada inclusive com fins recreativos, porém, com parcimônia. “A dependência é uma ’doença comportamental’ em todos os seus aspectos, logo retirando o comportamento, retiramos também a doença. Mas a facilidade de se adquirir o hábito e transformá-lo em vício não condiz com a dificuldade de sair desta armadilha”, lembra Roselene.

Rotina saudável é fundamental

De acordo com a neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner, a  melhor prevenção é a Psicoeducação, no sentido de desenvolvermos uma rotina saudável desde crianças, pois, os ‘nativos digitais’, nascidos na era ‘virtual’ são mais propensos a tornarem-se ‘adictos virtuais’. “Ainda que as crianças não sejam capazes de emitir, falar todas as palavras de forma correta, elas estão aptas a compreender quase tudo, por isso, é preciso acompanhá-las em todas as fases de seu desenvolvimento. Ensinando, preparando, guiando e amando”, complementa.

Ela explica que é necessário, em primeiro lugar, ensinar a criança a lidar com o tédio, para que comecem a entender e trabalhar algo que acontecerá na vida, que é a frustração. “Aprender a lidar com frustrações é pedagógico e terapêutico. Portanto, não tenha medo de conversar e explicar as formas de lidar com a rotina e disciplina dentro dos sistemas familiares. Ensinar que um bom dia começa com a organização do seu espaço, o quarto em que dorme, produzir uma convivência de união familiar, onde todos fazem parte de uma equipe, onde cada um pode colaborar com uma tarefa, colocar a mesa, retirar as louças, levar o lixo. Tudo isto tem a ver com limites e educação. Dar limites é dar amor. Crianças precisam compreender o funcionamento do mundo. Cabe aos adultos, pais, cuidadores, explicar”, salienta a neuropsicóloga. 

Outra maneira de desfocar o uso do celular é inserindo a criança numa atividade física que lhe dê prazer. “É importante observar a natureza do pequeno, suas inclinações naturais, seus gostos, suas habilidades, a estrutura de seu corpo. Identifique para quais atividades ele tem predisposição, gosto ou aptidão. Isso pode ajudar muito a produzir uma rotina onde ele possa se adequar e ter prazer nesta atividade”, orienta.

Mude o foco da criança!

- Leve a criança para atividades ao ar livre, como pedalar, passear, caminhar, ir à praia ou à piscina;

- Incentive atividades intelectuais, como leituras de livros e cruzadinhas;

- Dê responsabilidades e disciplina;

- Atente-se ao horário de dormir e de se alimentar;

- Crianças gostam de estar com outras crianças, em acampamentos, noite do pijama, sessão de cinema, piquenique;

- Leve-a ao zoológico, dê de presente um animal de estimação que ela possa ‘cuidar’, dentro de suas possibilidades iniciais. Conforme vai crescendo, vai se apropriando e tomando mais responsabilidades sobre este “ser vivo” que exige cuidados e carinho.

Da redação