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Cultivo orgânico motiva produtora rural catarinense
Trajetória inclui muito trabalho, resiliência e determinação

Loiva produz banana orgânica e mantém uma agroindústria (Fotos: Aires Mariga / Epagri) **Clique para ampliar

Publicado em 07/11/2023

Sentada na varanda de sua casa, ela aperta os pequenos olhos verdes cheios d’água. Se emociona com a própria trajetória como agricultora orgânica. O silêncio fala no discurso de Loiva Perdoná Ceza, nossa Personagem da Semana. Ela é produtora rural de Criciúma, no Sul de Santa Catarina, e descreve com empolgação sua história. Porém, tenta conter as lágrimas que teimam em surgir ao recordar passagens de sua carreira. 

Não é pra menos. Filha e neta de agricultores, ela se orgulha de ser a única que ficou no campo, entre os 60 netos gerados por seus avós maternos e paternos. Por volta do ano 2000, somou mais um desafio à sua vida profissional: tornar-se uma agricultora orgânica. Hoje ela colhe uma média de cinco toneladas de bananas orgânicas por mês, nos 10 hectares da sua propriedade. Mas, até chegar a esse patamar, "a luta", como ela mesmo define, foi grande.

Loiva teve uma companheira nessa batalha, a tia de seu esposo, Cléia Ceza, já falecida. Dona de uma parte das terras que abrigam o bananal, Cléia não gostava de agrotóxicos. “Ela sempre dizia que dentro da propriedade dela ela botava o que queria, e ela não queria veneno”, resume Loiva sobre a tia.  

Em busca da certificação

A certificação da produção orgânica veio só em 2006. Antes disso, as agricultoras passaram por um período difícil. “Pra vender como convencional, a banana não estava no padrão que o mercado exigia. Pra vender como orgânica, não tinha certificado”, descreve Loiva, não sem antes fazer um longo intervalo para conter a emoção que essa recordação provoca. 

Para contornar a situação, ela vendia uma parte da produção como convencional, “com preço bem baixo”, lembra. O restante era oferecido nas portas das casas e das fábricas da região. Normalmente vendia tudo, mas, caso contrário, dava de presente o que sobrava. O importante era voltar para casa sem as bananas. 

“Hoje eu não sei se teria essa vontade, nem essa disposição, mas na época eu tinha. Eu queria vencer, eu queria certificar, eu queria vender o meu produto, mostrar que ele era bom. E pra mim não era trabalhoso, não era custoso, não era ruim fazer aquilo, eu fazia com o maior prazer de chegar em casa com o carro vazio, não me interessava se tinha muito dinheiro ou pouco, interessava que o produto tinha ido e eu não jogava fora”, relata a produtora.

Loiva produz banana orgânica e mantém uma agroindústria

Com a certificação, as coisas começaram a melhorar. As redes supermercadistas da região foram os primeiros grandes compradores. “Chegávamos nós, duas mulheres, falando de orgânicos, que não tinha na minha cidade ainda. E, quando a gente chegava lá, se deparava com aqueles vendedores todos de notebook, muito chiques. A gente saía de lá e ria muito. A tia dizia: de certo eles imaginam que a gente é vendedora muito grande. E éramos pequenas agricultoras”. 

Tudo foi dando certo. Os mercados abriram as portas diante do produto novo, que despertava a curiosidade do público, e o ânimo de Loiva foi crescendo. Hoje ela já não distribui para supermercados, quase toda sua produção vai para cooperativas, que entregam para as escolas da região. 

Quem visita as feiras locais também pode comprar suas bananas, além dos produtos da agroindústria Ciranda Sabores Orgânicos, cuja certificação ela conquistou há dois anos. São bolos, geleias, balas, passas achocolatadas, biomassa, farinha e muito mais, feitos com banana orgânica e uma grande dose de carinho. 

As bananas orgânicas da família Ceza garantem o sustento de Loiva, seu marido e o genro, que trabalham na propriedade. A Ciranda Sabores Orgânicos tem uma funcionária, mas a intenção da agricultora é aumentar o número de empregados, contratando definitivamente a nora, que lhe ajuda esporadicamente na linha de produção. Há ainda um diarista, que entre duas e três vezes por semana faz a roçada no bananal. 

“Foi bastante lutado, não foi fácil, mas foi gratificante, a gente chegou onde queria”, reflete Loiva, na varanda da sua confortável casa. Mas os olhos verdes fixados no horizonte indicam outra coisa: seus sonhos levarão, ela e a agricultura orgânica do Sul de Santa Catarina, ainda muito longe.  

Certificação participativa 

A história de Loiva se confunde com a do Núcleo Serramar, do qual ela é uma das fundadoras. O Núcleo reúne cinco grupos de famílias rurais da região Sul de Santa Catarina, que adotam a certificação participativa por meio da Rede Ecovida de Agroecologia. 

Saymon Antonio Dela Bruna Zeferino, extensionista da Gerência Regional da Epagri em Criciúma e um dos responsáveis por dar orientação técnica aos agricultores orgânicos da região, explica que existem três formas de certificação de produção orgânica: a participativa, a auditada e a de Organização de Controle Social (OCS). 

Na participativa, os integrantes do grupo se autofiscalizam, garantindo que todas as exigências legais sejam cumpridas. Cada família produtora paga em média R$300,00 por ano para a instituição certificadora. Esse valor fica em torno de R$600,00 anuais para agroindústrias. 

Na certificação auditada, realizada por representantes da certificadora, o valor anual varia entre R$3 mil e R$5 mil, dependendo do local e do acordo que é feito, segundo informa Saymon. Já a certificação de OCS é adotada por quem só pratica venda direta ao consumidor, ou seja, vende na propriedade, numa feira ou entregando cestas de produtos, por exemplo. Neste caso, o agricultor não recebe certificado, mas precisa ter cadastro no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). 

A certificação participativa foi o modelo adotado por Loiva e pela maioria dos produtores da região. Ela diz que poderia ser certificada por auditoria, mas preferiu a outra. Já foi coordenadora de grupo, do núcleo Serramar e da rede Ecovida. Hoje é do comitê de ética, que faz visitas para conferir a conformidade das propriedades.  “Eu sempre gostei do coletivo, amo dividir com todos, isso tá em mim. Se tu está caminhando sozinho, não consegue ver, mas se está em grupo, consegue ver que teve mudança, no coletivo é melhor, né?”, pondera, com a animação que lhe é típica. 

Fonte: RCN

Da redação

 

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