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O canto do cisne da Ford não é de hoje

Montadora “tirou o pé” da subsidiária brasileira nos últimos anos (Foto: Reprodução/ Auto Indústria)

Publicado em 12/01/2021

O anúncio nessa segunda-feira, 11, do fechamento das fábricas da Ford no Brasil é a conclusão de um processo que vinha sendo desenhado aos poucos e, talvez, apenas acelerado pela crise econômica global. Enquanto a concorrência tratou de atualizar e ampliar seus portfólios de veículos, nos últimos quatro anos visivelmente a montadora tirou o pé do acelerador da operação brasileira.

Desde então seus movimentos positivos têm sido tímidos, como face-lifts dos veículos locais e a apresentação de um motor. Na verdade, as notícias a respeito da empresa e da marca passaram a ser dominadas pela descontinuidade da oferta de modelos, importação de outros e, claro, do fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, SP, em 2019.

O encerramento das atividades da vetenana planta de 52 anos teve especial simbolismo por ter acontecido exatamente no ano em que a marca completava 100 anos do início de suas atividades aqui. Em 1919, a Ford criou uma pequena linha de montagem no Centro de São Paulo para transformar os kits que importava dos Estados Unidos em veículos que passaram a ocupar as ainda estreitas ruas dos grandes centros.

Mas a “desidratação”da planta do ABC era perceptível bem antes de outubro de 2019, quando os últimos funcionários do quadro de mais de 2,3 mil foram dispensados. Seis meses antes a montadora encerrara a produção do Fiesta, modelo compacto que nunca chegou a ter fôlego para brigar com os principais concorrentes, e anos antes concentrara a fabricação do Ka, seu veículo mais vendido no Brasil, na Bahia, ao lado do EcoSport.

As máquinas de São Bernardo permaneceram ligadas apenas para dar conta das últimas entregas de seus caminhões, uma operação que sobrevivia a duras penas, já que mundialmente a Ford desistira do segmento há anos.

Histórica integrante das chamada Big Four, referência ao quarteto composto ainda por Volkswagen, Fiat e General Motors e que dominou o mercado brasileiro ao longo de 50 anos, a marca já vinha perdendo vendas para montadoras mais novatas aqui.

Fechou 2020 com queda de nada menos do que 36% nos licenciamentos, contra a média de 26,5% do mercado de automóveis e comerciais leves. Deteve somente 7,1% de participação e por meras 1,3 mil unidades não perdeu a 5ª colocação no ranking das marcas mais vendidas para a Toyota. Considerados apenas os carros de passeio, o recuo dos emplacamentos chegou a 39% diante de 28% da média.

A Ford já assumira, há três anos, que passaria a se dedicar mundialmente à produção apenas de SUVs, picapes e modelos de nichos específicos, como o esportivo Mustang. Sedãs e hatches vinham sendo limados gradualmente das linhas da empresa em todo o mundo — basta recordar de Focus e Fusion.

Não restava, portanto, horizonte distante para Ka e Ka Sedan. Responsáveis por 80% das vendas da Ford no Brasil, sem eles Camaçari teria de conviver com a produção de um utilitário esportivo, segmento que já reúne mais de 40 modelos no Brasil e que ganhará vários outros nos próximos dois anos.

A história, o custo e o impacto das demissões estimadas em pelo menos 5 mil trabalhadores não foram suficientes para que o board da empresa vislumbrasse outra possibilidade diante de sua estratégia global e de um mercado em crise. Para a Ford no Brasil, agora, importar é o que importa. E só.

Fonte: Auto Indústria


Da redação

 

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