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Saiba como a vida moderna afeta a autonomia infantil

Ao se tornar pai ou mãe, o desejo de dar aos filhos o que foi ausência na infância é quase sempre uma constante (Foto: Reprodução/Internet) **Clique para ampliar

Publicado em 22/08/2022

Na ânsia de oferecer o que há de melhor — seja por oportunidades de obter conhecimento ou em afeto, dentro daquilo que não tiveram, muitos pais e mães acabam pecando pelo excesso. 

Esta dinâmica nem sempre é percebida enquanto acontece e, segundo especialistas, deve ser considerada porque também os bons estímulos precisam respeitar o processo de desenvolvimento natural do cérebro da criança e do adolescente. 

Como saber se estou dando o que o meu filho precisa? 

Ler aos 4 anos, desenhar bem aos 3, falar antes de um ano… Será mesmo que o que define o desenvolvimento de uma criança são habilidades especiais precoces? 

Especialistas em pedagogia e desenvolvimento infantil são unânimes neste sentido. Segundo eles, essa métrica não deve ser usada para medir o desenvolvimento natural de uma criança. No Brasil, a lei 8.069/1990-art. 2°, estipula que criança é a pessoa com até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes entre 12 e 18 anos de idade. 

A neurocientista Livia Ciacci lembra que este processo considera a construção da base emocional — que sustentará o cérebro racional mais tarde quanto das habilidades cognitivas básicas para socialização e regulação do comportamento. “Se tentarmos resumir tudo o que crianças precisam nessa fase em três itens, podemos dizer que são: segurança, suporte emocional e o brincar livre”, assegurou a especialista. 

O risco das muitas atividades

Ainda segundo a especialista, crianças que são institucionalizadas cedo demais (escola, clube, curso de música, curso de idiomas, etc.) têm prejuízos ao aprender a conviver. “Por mais que esses ambientes tenham outras crianças, por exemplo, é um tipo de convivência sempre em meio ao olhar vigilante de um adulto. Piaget (1932) descreveu isso como “relações de coação”, que são as convivências marcadas pela verticalidade própria da obediência da criança ao adulto, não deixando espaço para relações mais horizontais, de cooperação entre pares. O resultado a longo prazo é a imaturidade e a falta de autonomia”, alertou. 

Livia Ciacci explica ainda que o brincar livre e não supervisionado está diretamente relacionado ao desenvolvimento saudável e à expansão da criatividade. No brincar, as crianças exploram e se relacionam com o mundo, entendem as experiências à sua própria maneira, além de desenvolverem-se fisicamente.

Por que é importante respeitar o desenvolvimento natural da criança? 

As transformações relacionadas ao desenvolvimento físico, intelectual, afetivo e moral da infância são favorecidas pelas brincadeiras e convivência com outras crianças. Porém, hoje é mais comum encontrar crianças com sinais de desinteresse e até pais se queixando de crianças “preguiçosas”. A especialista explica que uma rotina com a agenda cheia de atividades monitoradas (aparelhos eletrônicos, brinquedos, etc.) são fatores que reduzem o interesse geral das crianças pelo que fazem. 

“São contextos que não demandam nada da criança, diminuindo a iniciativa e espontaneidade, e o resultado são crianças que parecem sempre à espera de alguma orientação sobre o que fazer”, detalhou a especialista.

“Precisamos respeitar as crianças pelo que são, elas precisam ter o direito de brincar, se divertir, ter convívio social e de aproveitar momentos livres sem instruções a seguir. O maior erro dos pais e tutores é pretender criar, a qualquer custo, supergênios, poliglotas, superatletas ou futuros presidentes de empresas”, disse. 

Como a vida moderna afeta a autonomia infantil? 

Alguns aspectos comuns nas rotinas modernas das crianças podem diminuir o ganho de autonomia e aumentar as chances dela se mostrar “entediada” ou desinteressada, entenda: 

- Ter mais de duas atividades extracurriculares; 

- Ter a presença constante de um adulto (mãe, pai ou babá) quando não estão na escola;

- Ter acesso a equipamentos eletrônicos livremente (televisão, videogame, tablet e computador). 

Todos esses fatores juntos criam um ambiente onde a criança apenas assume uma postura passiva diante da vida, além de se distanciar fisicamente do próprio corpo.

Ainda segundo Livia Ciacci, para o cérebro é preciso diferenciar o que é necessidade da criança e o que é uma expectativa do adulto em relação a ela. Preocupações excessivas com o futuro dela antes da hora culminam no período extraescolar tomado por cursos, excluindo todo o período do brincar livre. Ea lembra que, infelizmente, não é raro ver crianças e jovens levados à exaustão, e quando finalmente surge algum tempo livre, ficam em dúvida sobre o que fazer ou se sentem entediados.

“David Elkind (2004) é um autor que já alertou sobre os riscos de extinção do conceito de infância na sociedade atual. Ele reforça que as necessidades das crianças diferem das dos adultos e 'ignorar suas diferenças, tratar as crianças como adultos, não é realmente democrático ou igualitário' (Elkind, 2004, p. 46). O mais importante é chegar a um equilíbrio, ou privilegiar atividades extracurriculares que incluam o brincar livre e a convivência horizontal entre crianças”, concluiu.

Da redação

 

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