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Começam oficinas de compostagem no parque do Jardim Atlântico

Comcap, Floram e Cepagro montaram pátio modelo para valorização de resíduos orgânicos no Parque Jardim Botânico (Foto: Adriana Baldissarelli)

Publicado em 15/10/2016

A Companhia Melhoramentos da Capital e o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo realizaram na manhã desta quinta-feira (13) a primeira de 10 oficinas para reciclagem de resíduos orgânicos no Parque Jardim Botânico de Florianópolis. Essa primeira só para empregados da Comcap e para técnicos convidados da Secretaria Municipal de Habitação e Saneamento Ambiental e Fatma, por exemplo.

Comcap e Cepagro são parceiros desde o início da Revolução dos Baldinhos no Monte Cristo. Mas agora, com convênio formalizado para o fortalecimento e a ampliação das ações de compostagem, gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana no município de Florianópolis, o passo é maior. A ideia é multiplicar na cidade experiências de agricultura urbana para garantir a política pública de desvio dos resíduos orgânicos do aterro sanitário.

Política de valorização

A oficina interna de compostagem foi organizada e promovida pelo Departamento Técnico de Valorização de Resíduos da Comcap. De acordo com a engenheira sanitarista e gerente da Divisão de Desenvolvimento de Projetos e Processos Operacionais, Karina da Silva de Souza, a ideia inicial é realizar 10 oficinas. A partir desta, na próxima em 5 de novembro, já abertas ao público externo. “Como se trata de uma política pública, a ideia é que as oficinas se tornem contínuas, pelo menos uma vez por mês, para oferecer a toda população de Florianópolis essa experiência de reciclagem de resíduos orgânicos”, afirmou.

A Comcap, apontou a engenheira, pretende sensibilizar a população de Florianópolis, bem como seus empregados, para que haja uma mudança de hábitos e sejam aproveitados os resíduos gerados nas residências para produzir composto orgânico. “A Comcap pretende com essas oficinas disseminar a ideia que o resíduo orgânico deve ser tratado na casa onde foi gerado e que ali mesmo sirva de adubo para a horta e para o ajardinamento.” Desviar os resíduos orgânicos do aterro é uma política pública que atende ao Plano Municipal de Coleta Seletiva e à Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Ouro negro

Cada habitante de Florianópolis produz em média 1,1 quilo de resíduo por dia. Praticamente metade disso é matéria orgânica. Num ano, a capital gasta R$ 25 milhões para transportar e aterrar o lixo em Biguaçu.  Então, calculou o engenheiro agrônomo Julio César Maestri, a cidade gasta R$ 13 milhões por ano para aterrar matéria orgânica que poderia ser transformada em adubo. Pior ainda, como 70% da matéria orgânica é água, gasta R$ 9 milhões por ano para aterrar água em Biguaçu.

Com a descentralização do tratamento dos resíduos orgânicos e a implantação de hortas residenciais e comunitárias, Florianópolis,  além de reduzir gastos públicos, geraria muita riqueza. Ganharia com a produção de alimentos locais e saudáveis, livres de agrotóxicos, com a recuperação de solos urbanos e a geração de novos empregos e renda. Para se ter noção, hoje uma garrafa de dois litros de biofertilizante é comercializada a R$ 14 e um saco de dois quilos de composto orgânico a R$ 10.

“Gasta-se muito para que essa matéria orgânica vá para aterro sanitário, enquanto poderia se usar esse investimento para disseminar experiências de reciclagem nas escolas e nas comunidades”, propôs Maestri.  Ele defendeu a descentralização dos pátios de compostagem, das soluções de valorização nas casas, escolas e em áreas já ociosas, evitando a necessidade de ocupar grandes áreas.

Espaço único

Para dar conhecimento às soluções possíveis de tratamento descentralizado de resíduos orgânicos, a Comcap, Cepagro e Floram implantaram um espaço didático modelo no Parque Jardim Botânico de Florianópolis. A iniciativa tem patrocínio da Usina do Hambúrguer, empresa que no mês de setembro doou R$ 1 de cada sanduíche vendido para a realização das oficinas e instalação do pátio modelo.

O espaço, destacou Maestri, com vários modelos de composteiras residenciais e com soluções para maior escala é singular no Brasil. “Pela variedade de métodos apresentados, já pode ser considerada  é uma referência no cenário brasileiro”, disse. 

Para a montagem da primeira leira já estavam disponíveis seis bombonas com resíduos orgânicos entregues voluntariamente pelos moradores do entorno do parque.

Linhagem pura

Durante a oficina, Maestri lembrou que o método de compostagem disseminado pela Ufsc, que promove a reciclagem dos resíduos orgânicos sem mau cheiro ou ocorrência de vetores de doenças, é baseado na experiência indiana de 2 mil anos. A experiência dos indianos de dotar o solo com fertilidade natural foi estudada pelos ingleses, progrediu na Califórnia, nos Estados Unidos, e chegou há 20 anos em Florianópolis pelas mãos do professor Rick Miller, do Centro de Ciências Agrárias da UFSC. “O professor Rick formou vários composteiros. Nós todos somos da linhagem pura de composteiros indianos”, valorizou Maestri.

Aprenda a fazer compostagem